16 fevereiro, 2015

Laughbanging entrevista Dico

Metaleiro da "velha guarda", criador do blog Metal Incandescente, escritor do livro "Breve História do Metal Português" e muitos mais projectos ligados a este som agressivo que tanto gostamos. Tal como o som, ele é conhecido por um nome igualmente agressivo: Dico.
Foi a primeira e única pessoa que entrevistou os criadores do Laughbanging. Posto isto, o Laughbanging decidiu retribuir o favor e entrevistá-lo... 8 anos depois.


Fala-nos destas duas fotografias abaixo. Quando é que decidiste deixar a Hewlett Packard e foste para o Seminário?
A foto da esquerda é da época em que eu queria fazer a cirurgia para mudar de sexo mas não tinha dinheiro, por isso limitei-me a deixar crescer o cabelo e a fazer voz fininha. Decidi deixar a Hewlett Packard ainda antes de me candidatar a um emprego lá. Achei melhor ingressar no Seminário, mas a minha passagem por lá foi breve. Uma noite fui surpreendido a ouvir um álbum do Tony Carreira e expulsaram-me de imediato. Disseram que não queriam ali gente como eu. Podes ver o sorriso nervoso (foto da direita) com que fico sempre que falo disso.

És músico, jornalista e escritor onde por vezes tens de aturar muitas birras de músicos e críticos. És também casado e pai de um filho onde por vezes tens de aturar muitas birras de ambos. Qual das duas experiências é a mais difícil?
Ambas são difíceis, mas as birras que fazem mais estragos são as dos críticos que fazem as suas análises de forma infundada, frustrada, ressabiada e ignorante, o que acontece com uma frequência assustadora. Por outro lado, mesmo que te levem a ter quase um ataque cardíaco, as birras familiares comportam sempre uma elevada dose de amor, o que é muito reconfortante. As birras dos músicos são mais ao nível de quererem negar factos das suas biografias e quererem contrariar a ideia de que o seu novo álbum é mesmo o melhor.

Se pudesses refazer o livro "Breve História do Metal Português" onde pudesses escrever sobre as polémicas e os "podres" do underground nacional, quantos volumes achas que isso daria?
Ui, isso era interessante. Bastava escrever sobre as birrinhas de algumas figuras pseudo-especialistas e com a mania que são famosos para dar dois volumes, cada um da espessura do Código Civil, no mínimo. Mas se fosse a aprofundar ainda mais, a galeria dos horrores do Metal nacional (e não estou a falar das capas dos álbuns dos Holocausto Canibal) era capaz de resultar nuns 666 volumes.

Imagina-te de volta à tua juventude. Como é que foi o jantar em que anunciaste à família que gostavas de Heavy Metal? Ou pior, que querias ser baterista?
Coitada da minha família, não precisou que lhes fizesse esses anúncios oficialmente. A prova de que eu era fã de Heavy Metal e queria ser baterista entrava-lhes pelos tímpanos dentro todos os dias, em particular quando batia violentamente com as colheres de pau nas caixas tupperware como se de uma bateria se tratasse (isto é verídico, não estou a gozar). Pior ainda foi quando comprei a minha primeira bateria. Reza a história que os meus devaneios “baterísticos” se faziam ouvir a uns 200 metros de distância.

Nos ensaios, quantas vezes é que a banda se irritou contigo porque queria dizer alguma coisa ou ainda estava a afinar os instrumentos mas não conseguia porque tu não paravas de tocar nem por uns segundos?
Não sei, só sei que eu era mesmo um chato do caraças (desconfio que ainda hoje sou, mas isso terás que perguntar à minha família e aos meus amigos). É que quando só ensaias uma vez por semana e estás a pagar para isso tens que aproveitar ao máximo e quando eles começavam a abardinar eu fazia logo um blastbeat para deixar as hostes em sentido e passar ao tema seguinte. Em geral, resultava.

Uma das vossas aparições na televisão foi neste programa da RTP2 onde tocaram algumas músicas. Dico, o que se passou aqui contigo para estares tão direitinho a tocar? Não querias despentear-te? Estavas com receio que os óculos caíssem? Levaste uma reprimenda do teu médico para teres sempre as costas direitas?


Estava firme e hirto devido à concentração zen. É que nesta treta de fazer playback o desgraçado do baterista é que se lixava. Já não bastava estar lá atrás, qual renegado, e ainda por cima tinha que tocar a medo, como um betinho. Não se podia fazer barulho. Na altura não havia forma de abafar os tambores, por isso, se eu tocasse uma nota mais alta abafava o som das colunas e começavam todos a barafustar aqui com o caixa de óculos. De tantos takes repetirmos tive que me render às evidências e fazer de conta que tinha engolido o cabo de uma vassoura.

Caso se proporcionasse, qual das bandas em que já tocaste escolherias para fazer a banda sonora de um filme da Violetta?
Mas será que ninguém consegue dizer correctamente o nome dessa artista de excepção? Não é Violetta, é Violenta, chiça! V-i-o-l-e-n-t-a! OK? Uma vez, a miúda teve o azar de lhe escreverem mal o nome num cartaz e a partir daí toda a gente começou a chamar-lhe Violetta. Obviamente que desde esse triste episódio ela se tornou ainda mais Violenta e quem paga a factura são os desgraçados da road crew que a acompanham na estrada. Mas para responder à tua pergunta, a banda que escolheria seriam os Paranóia, garantidamente. Faríamos uns 100 temas Grind com uma média de 20 segundos cada e despachava-se a coisa. Acho que a Violenta iria adorar.

Imagina que vais de viagem e que apenas podes levar um único CD para ouvires. O que escolhias: um péssimo CD de Heavy Metal que nos envergonha a todos, um medíocre álbum pop ou um excelente CD de Kizomba reconhecido pela crítica?
Levaria sem dúvida um péssimo CD de Heavy Metal que nos envergonha a todos, mesmo que fosse um álbum dos Ratt.

As casas, os carros, as groupies… Tudo coisas que um músico pode almejar, menos os de Heavy Metal. Não é por acaso que alguns vendem a alma ao diabo tocando em bandas Pimba, Pop, para que possam sobreviver. Posto isto, e apelando ao teu conhecimento enciclopédico, conta aqui à gente exemplos engraçados deste género?
Esse era outro tema que dava para escrever alguns livros volumosos. Eu próprio já toquei com alguns músicos que agora tocam…aarrgh, nem é bom lembrar-me disso, estou a ficar com náuseas. Há alguns exemplos, mas seriam embaraçosos para com os seus protagonistas, por isso vou ali fora comer uma bifana afogada em mostarda e já volto. Obrigadinho pela compreensão.

Sendo tu da velha guarda, tendo acompanhado boa parte da evolução da música, bem como da tecnologia associada a esta, alguma vez deste por ti a tentar rebobinar um CD com uma caneta BIC?
Antes de mais deixa-me dizer-te que a bifana estava mesmo boa. Buurrp…ups, perdão. Não, por acaso a caneta não era Bic, era Rotring. Mas ainda hoje estou para saber por que raio o CD não rebobinou. Se calhar tinha que o colocar no lado B, seria isso?

Últimos comentários:
Quem é que te disse que me apetece fazer comentários? Eu não vou comentar nada. Não me chamo Marcelo Rebelo de Sousa.  Não vou escrever uma linha sequer. Só me faltava agora esta, hã?  Ho, que caraças…


Bandas por onde passou como baterista:
Dinosaur, Estalada Total, Paranóia, Powersource, Sacred Sin, Timeless

Outros projectos:
Breve História do Metal
(livro)
escritor

Metal Incandescente
(blog)
criador e escritor

Páginas oficiais:
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